Excelente editorial do Jornal A Tarde de hoje 27.02.17
Uma batalha vã
Em Londrina, cidade do interior do Paraná (sim, o estado em que atua o juiz Sérgio Moro, da Operação Lava Jato), um delegado da Polícia Federal solicitou vantagem indevida ao proprietário de uma empresa de segurança privada. Em troca, o policial deixaria de realizar o indiciamento formal do empresário em inquérito policial que apurava sua conduta. Na Universidade Federal do Paraná (sim, a mesma em que o juiz Sérgio Moro é professor de Processo Penal), uma quadrilha raspava os recursos da instituição pública desde 2013 e continuou insistindo na prática delituosa mesmo quando o professor da casa se tornou uma das pessoas mais conhecidas do País por seu combate contra a corrupção. O trabalho do Ministério Público, da Polícia Federal e da força-tarefa empenhada em mandar para a cadeia a ladroagem que engorda à custa do dinheiro arrecadado do cidadão brasileiro em forma de tributos parece nem meter medo nem incutir receio na gatunagem de colarinho branco. A voracidade com que continuam a enfiar os dentes no erário é assombrosa e a roubalheira pode ser encontrada até mesmo – valha-nos, Deus! – no interior da PF, linha de frente da luta que tem no juiz Moro a figura mais conhecida. São dois exemplos de como a corrupção está entranhada, deitou raízes profundas e múltiplas e que insistem em se cravar fundo. Em todos os casos, nesses e nos da Operação Lava Jato, há uma figura presente, perpétua: o Estado brasileiro, que tantos teimam em expandir. Crescemos, desde 1500, à sombra e sob os braços generosos do Estado, e junto cultivamos, alimentamos e engordamos a corrupção. Aumento de penas, a prisão, julgamento e condenação dos envolvidos – vê-se claramente no Paraná, mas o mesmo pode ser estendido para todo o território nacional – pouco efeito parecem exercer sobre a maioria que escapa, impune, à Justiça. Há poucas esperanças de que consigamos vencer essa batalha enquanto não percebermos que a rapina cresce junto com a burocracia, o apadrinhamento, o nepotismo e o aparelhamento estatal.
Fonte: Jornal A Tarde de 27.02.17